Nota do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) sobre a revolta dos operários na Usina Hidrelétrica de Jirau, em Rondônia
Nesta semana acompanhamos a revolta dos
operários na Usina Hidrelétrica de Jirau contra as empresas que
controlam a barragem. Existem informações de que os mais de 15 mil
operários da obra estão em situação de superexploração, com salários
extremamente baixos, longas jornadas e péssimas condições de trabalho,
que existe epidemia de doenças dentro da usina e não existe atendimento
adequado de saúde, que o transporte dos operários é de péssima
qualidade, sofrem com a falta de segurança e que mais de 4.500
operários estão ameaçados de demissão. Esta é a realidade da vida dos
operários.
Esta situação tem como principal
responsável os donos da usina de Jirau, o Consórcio formado pela
transnacional francesa Suez, pela Camargo Corrêa e pela Eletrosul. As
revoltas dos operários dentro das usinas tem sido cada vez mais
frequentes e isso é fruto da brutal exploração que estas empresas
transnacionais impõem sobre seus trabalhadores.
Há pouco tempo houve revolta na usina
de Foz do Chapecó, também de propriedade da Camargo Corrêa, em 2010
houve a revolta dos operários da usina de Santo Antonio e agora temos
acompanhado a revolta dos operários da usina de Jirau.
As empresas construtoras de Jirau são
as mesmas que foram denunciadas em recente relatório de violação de
Direitos Humanos, aprovado pelo Governo Federal, que constatou que
existe um padrão de violação dos direitos humanos em barragens e de
criminalização, sendo que 16 direitos têm sido sistematicamente
violados na construção de barragens. Os atingidos por barragens e os
operários tem sido as principais vítimas.
A empresa Suez, principal acionista de
Jirau, é dona da Barragem de Cana Brava, em Goiás, e Camargo Corrêa é
dona da usina de Foz do Chapecó, em Santa Catarina. Essas duas
hidrelétricas também foram investigadas pela Comissão Especial de
Direitos Humanos em que foi comprovada a violação. Estas empresas tem
uma das piores práticas de tratamento com os atingidos e com seus
operários.
Em junho de 2010, o MAB já havia
alertado a sociedade que em Jirau havia indícios e denúncias, que
circularam na imprensa local, de que as empresas donas da Usina de
Jirau haviam contratado ex-coronéis do exército para fazer uma espécie
de trabalho para os donos da usina de Jirau e não seria surpresa se
estes indivíduos contratados pelas empresas promovessem ataques ou
sabotagens contra os operários e atingidos, para jogar uns contra os
outros e/ou criminalizar nossas organizações e sindicatos.
A revolta dos operários é reflexo desse
autoritarismo e da ganância pela acumulação de riqueza através da
exploração da natureza e dos trabalhadores. Prova desse autoritarismo e
intransigência é que estas empresas se negam a dialogar com os
atingidos pela usina e centenas de famílias terão seus direitos
negados. As consequências vão muito além disso, pois nesta região se
instalou os maiores índices de prostituição e violência.
Em 2011, O MAB completa 20 anos de luta
e os atingidos comemoram a resistência nacional, mas também denunciam
que estas empresas não tem compromisso com a população atingida e nem
com seus operários. Recebem altas taxas de lucro que levam para seus
países e o povo da região fica com os problemas sociais e ambientais.
O MAB vem a público exigir o fim da
violação dos direitos humanos em barragens e esperamos que as
reivindicações por melhores condições de trabalho e vida dos operários
sejam atendidas.
Água e energia não são mercadorias!
Coordenação Nacional / Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB)
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