As imagens seguintes são de ponteiras de pedra recicladas pelos povos
da cultura Clóvis, encontradas nos Estados Unidos. Revelam que a
humanidade já faz reciclagem e reutilização de materiais há pelo menos
13 mil anos. A imagem logo abaixo mostra uma ponteira que foi reciclada
pelo menos três vezes, e a imagem inferior mostra que a ponteira foi
reciclada para ter uma outra utilização, como um perfurador ou raspador.
Será que realmente estamos ajudando a natureza fazendo a reciclagem? No
exemplo acima, dá para perceber que não. No entanto, as pessoas acham
que fazer reciclagem das embalagens dos produtos que consomem ajuda o
meio ambiente. As campanhas na mídia influenciadas pelo comércio
altamente lucrativo de basicamente dois tipos de embalagens de bebidas,
latinhas de alumínio e garrafas PET contribuíram para iludir as pessoas
e aliviar a consciência delas quando doam para o diretor da escola ou
para os catadores aquelas sacadas de latas de cerveja consumidas nos
finais de semana. Tem até escola pública que troca por nota estas
latinhas de cerveja. Quanto maior a quantidade de latas, maior a
satisfação das pessoas.
Matérias e artigos sobre a tal reciclagem de latinhas de alumínio
inundam os espaços em revistas e jornais reservados ao meio ambiente.
Mas todos omitem o lado sujo envolvendo a reciclagem de latinhas de
alumínio, como por exemplo, os gases liberados e os resíduos altamente
tóxicos (cancerígenos) da queima da tinta das latinhas no processo de
fundição. Quando analisamos com uma visão mais ampla todo o processo
percebemos que esta reciclagem de latinhas de cerveja não é diferente
da reciclagem das ponteiras de pedra das flechas para poder matar mais
bichos.
A prova de que isto é a pura verdade está nos dados dos próprios
fabricantes de cerveja. O consumo de cerveja tem aumentado
significativamente nos últimos anos e não para de crescer, fazendo com
que a produção nacional das embalagens de latinhas de alumínio não
atenda mais a demanda, o que obriga o setor a importar as latinhas
vazias, em quantidades cada vez maiores (não é por falta do metal
alumínio, mas a capacidade de produção). A mineração de alumínio, bem
como o consumo de energia elétrica nunca diminuiu, aumenta sempre, sem
parar.
Quando entregamos estas latinhas para serem recicladas, a conclusão que
se chega é que só estamos ajudando as cervejarias a vender mais
cerveja. A natureza – e a humanidade - sofreriam menos impacto se as
latinhas fossem prensadas e armazenadas para sempre em algum lugar
especial, já que espaço para guardar lixo adequadamente não é problema,
considerando as extensas áreas que as prefeituras aprovam todos os anos
para implantar novos loteamentos, visando atender a demanda sempre
crescente de moradias para a população que não para de aumentar. Assim,
poderia provocar aumento de preço e reduzir o consumo exagerado de
bebidas alcoólicas, o que de fato contribuiria para ajudar o meio
ambiente e a sociedade.
Se a humanidade quiser continuar sua trajetória de buscar a felicidade,
bebendo cerveja (com moderação) ou de outra forma mais saudável, vai
ter que mudar de caminho. Os povos da tradição Umbu já nos provaram de
forma trágica isso há 12 mil anos na Mata Atlântica. Viver de forma
sustentável não é reciclar (afiar) as ponteiras de flechas para
matarmos mais bichos, ou melhor, saquearmos a natureza para atender a
demanda de consumo de uma população humana que aumenta cada vez mais.
EXTRAÍIDO DO SITE O ECO
O catarinense Germano Woehl Jr é doutor em física pela UNICAMP,
Pesquisador Titular do Instituto de Estudos Avançados, em São José dos
Campos (SP) e nas horas vagas se dedica na defesa da Mata Atlântica
através do Instituto Rã-bugio.
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