Eis que chega outra, bem mais gordinha. “Afasta, magricela”, diz, e dá um chega pra lá na concorrente. “Você só tem costela”.
A
campanha passa em Moçambique, e é destinada a valorizar o frango
nacional. Quem descobriu a pérola foi Amanda Rossi, estudante de
jornalismo da Escola de Comunicações e Artes da USP, que acaba de
defender trabalho de conclusão de curso sobre o país da costa leste
africana, chamado “A luta continua”.
“O frango nacional é melhor”, conclui o vídeo, produzido pela associação de criadores locais.
Este é um exemplo bem-humorado de um fenômeno africano: a relação por vezes ambígua dos países locais com o Brasil.
Com
certeza, ela é majoritariamente positiva para nós. Africanos veem o
brasileiro da mesma forma que o resto do mundo, com o futebol no topo da
lista de referências.
Mas
há mais: uma crença disseminada de que somos uma grande potência, e um
espanto todas as vezes em que eu, em diversos países, procurava
esclarecer que o Brasil ainda é, em muitos aspectos, um país pobre.
E,
desde o governo Lula, o Brasil é também um país que fornece assistência
técnica em áreas como saúde, educação, desenvolvimento econômico e
agricultura. Moçambique é sede, por exemplo, de uma unidade da Fundação
Oswaldo Cruz, referência em tratamento de saúde.
Inevitavelmente,
no entanto, essa maior presença brasileira começa a vir acompanhada de
uma percepção de imperialismo econômico. Algo que, diga-se de passagem,
só tenderá a aumentar. É um processo que ocorre toda vez que um país
começa a expandir seus tentáculos, seja EUA, França, China ou Brasil.
No
caso do frango, os moçambicanos estão incomodados com a concorrência do
produto brasileiro. Mesmo a meio planeta de distância, nossas penosas
podem chegar às prateleiras locais mais baratas do que o frango oriundo
de algumas centenas de quilômetros de distância.
Contribui
para isso o fato de que Moçambique é um país extenso e com
infraestrutura ainda precária. Passou 16 anos em uma guerra civil que,
embora tenha se encerrado em 1992, continua a se fazer sentir na falta
de uma malha de transportes decente. O país cresce, mas distribui pouca
renda, e para o produtor rural moçambicano, as condições ainda são
difíceis.
A
campanha de TV é uma maneira sutil de dar uma estocada em nós,
brasucas. Virão outras em breve, em outros países. Continuaremos a ser
vistos com simpatia-quase-amor. Mas espere um pouco dessa boa-vontade se
dissipando nos anos vindouros.
Escrito por Fábio Zanini às 10h43
VINDA DO BLOG DESSE RAPAZ após a fácil ação do "copiar-colar"
VINDA DO BLOG DESSE RAPAZ após a fácil ação do "copiar-colar"
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