sexta-feira, 1 de abril de 2011

O TELEMARKETING è RUIM e é a cara do nosso capitalismo selvagem!

 Os trabalhadores de telemarketing são a ponta de lança do mau atendimento prestado pelas empresas no país. É o pessoal treinado para segurar a insatisfação, não deixando o problema subir para onde não há baia apertada e sim sala com vista. A função é semelhante ao capataz que fica entre o senhor e os escravos, que entende perfeitamente e concorda com a reclamação do consumidor, porque é um deles, mas tem que cumprir ordens para sobreviver.
Ou, melhor, regras que, feito a palavra de Deus, foram entregues a eles em duas tábuas de pedra sob o título: “para ser aplicado, não questionado”. É como a fórmula de Bhaskara na escola: você não entende como chegaram naquilo, mas usa mesmo assim para passar de ano. É a alienação completa do trabalhador, que não compreende o que vem antes ou depois, ou como seu trabalho se encaixa na estrutura. Apenas faz.
Há muitas semelhanças entre eles e operários de uma linha de produção fordista, daquelas mais antigas.

Trabalhar de forma intensiva, dando o máximo que o corpo e a mente agüentam, respondendo a ligação após ligação, insultos após insultos, com condições precárias de serviço e uma remuneração ridícula. E põe ridícula nisso. Fora a competição estimulada internamente, em que o melhor do mês ganha um videocassete e os outros cinco melhores levam para casa uma TV a válvula – o que é muito mais barato do que garantir trabalho decente para todo mundo. Algo semelhante ocorre em fazendas de cana, em que o cortador-master recebe uma moto no fim da safra depois de perder dez anos da vida de tanto se esfolar, tornando-se um exemplo a ser seguido por um exército de facões que sonham com a moto.

Empresas de telemarketing espalham-se pelo país. Nossos governantes elogiam isso, enaltecendo como o setor emprega e gera riqueza. Multiplicam-se os sotaques ao telefone. No começo, era São Paulo e Rio de Janeiro, onde há sedes de muitas empresas. Depois, começaram a correr atrás de locais com sindicatos mais fracos e onde o custo de trabalho era menor – básico. Você pensa que está falando com alguém na Avenida Paulista, mas na verdade conversa com Palmas, no Tocantins.
A tecnologia que permite voz sobre IP contribuiu e, muito, com esse processo de descentralização – que não seria ruim se não fossem suas reais intenções. Jovens ganham pouco mais de um salário mínimo para perder a sanidade e desenvolver LER/Dort em baias minúsculas de diversas capitais. Universalizamos a exploração, não os benefícios.

Não só as prestadoras desse serviço se espalharam, como também os problemas, haja vista a quantidade de autuações, cujas principais são por excesso de jornada, desrespeito ao descanso e falta de registro trabalhista.
Um exemplo prosaico: um rapaz que trabalhava em uma empresa de call center em Goiânia pediu danos morais na Justiça do Trabalho por ter que solicitar autorização para o chefe toda vez que queria ir ao banheiro. Segundo ele, quando havia uma demanda grande de ligações, os trabalhadores eram impedidos de ir ao toalete sem uma justificativa. O caso chegou até o Tribunal Superior do Trabalho, que decidiu que um chefe que limita a ida de um empregado ao banheiro solicitando explicações não comete dano moral contra a imagem ou intimidade da pessoa. Pelo menos para o caso das operadoras de telemarketing.
A verdade é que o setor é lucrativo porque usa a força de trabalho no limite. Se contratassem mais pessoas, garantissem melhores condições e pagassem melhor, ele não seria a galinha dos ovos de ouro – como muita coisa por aqui.
Do nosso lado, só lembramos como o atendimento é ruim. Muitos culpam “a falta de treinamento dos trabalhadores”. Não sabem, ou não querem saber, que o que existe por trás é uma senzala construída com as novas tecnologias da comunicação.( titulo modificado do original, o texto teve uma parte retirada)
POR leonardo SAKAMOTO do site uol!!
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2 comentários:

  1. Realmente Celito, com a correria do dia a dia acabamos culpado os telefonistas, pra começar só para sermos atendidos demora cerca de 20 minutos, quando alguem vai falar com a gente e ainda manda ligar para outro setor por este setor é o errado, ou porque o seu sistema está fora do ar, eu mesma me estresso!
    Mas em pensar que eles estão em uma sala apertada, ouvindo centenas de telefones tocando, tendo que atender milhares de pessoas, recebem mal... E ser isso em torno de 40 horas por semana!!!
    A unica maneira de combater isso é se organizar, mas como, ele têm tempo para isso?

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  2. Tens razão Celito, quando diz que esta nova forma trabalho escravo tem o aval dos governanates, me lembro que em tempos recente um dos assuntos mais comentados em Salvador era a implantação do Call center do banco do Brasil que geraria centenas de empregos. Mas as condições são estas descritas no texto, atendimento ruim, insatisfação dos usuários stress do trabalhador e o canalha do patrão cada dia mais rico...

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