A sustentabilidade tem sido usada por vários setores da
sociedade para indicar falsas preocupações ambientais, produtos que se
autodenominam verdes, empresas que se dizem responsáveis socialmente,
mas não o são para com empregados, clientes etc. Frente ao consumo em
escala gigantesca, o termo sustentabilidade ou a causa ambiental não
estariam sendo absorvidos por um modo de produção que se mostrou
fracassado e agressor da vida?
A sustentabilidade e o crescimento econômico obedecem a lógicas
diferentes. A sustentabilidade pressupõe a interdependência de todos
com todos, a cooperação e a coevolução de todos, respeitando cada ser
por possuir valor intrínseco. O crescimento econômico é linear,
pressupõe a dominação da natureza e o uso utilitarista dos seres que
apenas tem sentido na medida em que se ordenam ao ser humano. A
sustentabilidade representa um novo paradigma que se opõe ao paradigma
de violência contra a natureza. Exige um novo acordo de sinergia, de
respeito e de sentimento de pertença à natureza sendo a parte
consciente e responsável dela. A utilização que se faz da
sustentabilidade pode melhorar alguns aspectos da redução de gases de
efeito estufa, mas não muda a lógica de pilhagem da natureza em vista
da acumulação. A Terra será sempre vista como um baú de recursos, nunca
como Gaia, como Grande Mãe, um superorganismo vivo que se autorregula
de tal forma que sempre se faz apto a produzir e reproduzir vida.
Como cada um pode colaborar para a reversão da falência da
forma de vida e produção que temos até hoje? Em entrevista por ocasião
dos 70 anos do senhor, o senhor teria dito: “Nunca aceitei o mundo
assim como está”.
A crise é global e por isso atinge a cada um. E cada um é convocado
a dar a sua colaboração Uma gota de água caída do céu não significa
nada. Mas milhões e milhões de gotas produzem um grande chuva e até uma
tempestade. Devemos pensar em termos quânticos: tudo tem a ver com tudo
em todos os momentos e circunstâncias. Tudo se encontra
inter-retro-conectado. Então, o bem que pessoalmente faço não fica
reduzido ao meu mundo. Entra no circuito das interdependências e pode
deslanchar grandes mudanças. Se não posso mudar o mundo, sempre posso
mudar esse pedaço de mundo que sou eu mesmo. E aí pode se encontrar a
semente de uma grande mudança.
Postado: Brasil de Fato e extraído por mim do blog INSTITUTO ZEQUINHA BARRETO
O teólogo e filósofo Leonardo Boff tem dedicado-se nos últimos tempos à
luta por um novo paradigma ecológico. Autor de mais de 60 livros nas
áreas de Teologia, Ecologia, Espiritualidade, Filosofia, Antropologia e
Mística.
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